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Queria uma Rainha, mas era só um Rei.


Recentemente, eu tive um momento que posso considerar como um marco entre duas fases da minha atual trajetória, a qual ainda envolve meu processo de superação e cura do meu último relacionamento.


Não faz muito tempo que tivemos o São João e, na minha cidade, como em tantas outras, tivemos comemorações e uma semana com diversas atrações. E, como é de se esperar, em alguns desses eventos que me propus a ir, eu iria, de fato, me encontrar com meu ex-namorado.


À medida que os dias se aproximavam, eu ficava cada vez mais nervoso. Apenas para contextualizar, eu me privei por nove meses de sair para determinados locais da cidade — a maioria festas, boates, bares e demais locais de lazer — por medo de o encontrar (eu sei... um baita exagero). O meu medo, na verdade, ou ao menos o principal deles, não era apenas estar no mesmo ambiente, mas vê-lo ficando com outras pessoas.


Não é segredo algum que eu sempre fui a parte que mais gostava dentro do relacionamento. Mesmo sendo um namoro abusivo e regado a traições por parte dele, eu sempre fui a parte mais dependente e apaixonada. Mesmo estando consciente da toxicidade em que me encontrava, eu não conseguia não gostar tanto quanto eu sabia que não deveria.


A questão é: me privei por muito tempo e, ao que tudo indicava, esse tempo estava por terminar. Eu estava cansado de ficar “escondido” e com medo. E, sinceramente, eu queria voltar a ter minha vida social normalizada. Foram vários meses sem estar com amigos, vivendo e curtindo a minha “liberdade”. Afinal, eu era um prisioneiro da minha própria vida, e isso já estava me incomodando ao ponto de o medo de me machucar — que sempre fora extremamente assustador — ficar de lado e dar vazão ao grito de liberdade.


Logo, exatos dois dias antes do então aterrorizante pesadelo (um camarote com energia de “De Férias com o Ex”), eu chorei. Chorei de ansiedade e desespero. Depois de me acalmar, eu resolvi fazer um jogo de tarot. Eu pensei que, se a mensagem fosse positiva, esse estado poderia passar — e o universo me livrasse se não fosse, era uma possibilidade com a qual eu não estaria em condições de lidar.


Para a minha felicidade, o jogo foi tranquilizante. Porém, um erro de leitura ocasionou outro momento de choro e desespero. Entre as diversas cartas que saíram, a que representava o meu ex era o Rei de Ouros. Porém, ao interpretar a carta, eu concluí que ele iria se “comportar” de maneira cordial e extremamente prestativa, com o intuito de evitar qualquer situação complicada que poderia me deixar desconfortável, pois ele sentia, de certa forma, um carinho por mim.


Ao compartilhar a leitura com um amigo, ele concordou com a parte em que ele se “comportaria” ou não faria nada de propósito. Porém, ele prontamente disse que seria por causa dele mesmo — o meu ex — e não por minha causa. Que ele ficaria de maneira cordial por não querer estresse, e não por se importar comigo de alguma forma.

Não quero dizer o quanto isso ficou na minha mente.


Então, eu fui estudar nos meus livros e, para minha surpresa, meu amigo estava certo. Eu havia cometido um erro — ou melhor, eu dei à carta o que eu queria que fosse verdade (um dos problemas de ler tarot para si mesmo). A interpretação que eu dei era, na verdade, o que seria correto para uma Rainha de Ouros. As rainhas, no geral, são, de certa forma, maternais e sentimentais. Elas cuidam e protegem os outros de forma nutridora, elas querem o bem, se preocupam, são empáticas.

Rainha de Ouros e Rei de Ouros

Os reis, por outro lado, são apáticos. Quando cuidam ou provêm, não é por empatia ou por se preocuparem. Ao contrário das rainhas, os reis fazem por dever, interesse, poder ou por terem condições de assim fazer. Todos os reis têm o elemento fogo como base (impulso, criatividade, liderança), e as rainhas, o elemento água (sentimento, empatia, sensibilidade).


Na imagem acima, conseguimos ver como a rainha segura cuidadosamente a “moeda” em seu colo, quase como uma criança. Seu olhar é afetuoso e acolhedor, enquanto o rei a sustenta de maneira indiferente, como se fosse sua obrigação — a segura com uma única mão, enquanto a outra segura seu cetro, demonstrando seu poder.


E então, na exata noite anterior ao “encontro”, eu chorei... (eu sei, eu choro muito, mas não posso evitar, sou canceriano). Mas dessa vez eu chorei porque "eu queria uma Rainha, mas ele era apenas um Rei". Eu queria que ele se importasse, que ele, de certa forma, me protegesse.


Bom, não preciso nem dizer que o tarot acertou em cheio. Eu, de fato, o encontrei no tão famigerado dia, e o olhar dele para comigo era de descaso misturado com desprezo. Mas isso não havia sido tudo que o tarot havia me falado na tiragem. Até então, eu comentei apenas da carta que saiu representando o meu ex e de como foi fatídica a minha interpretação. Porém, uma outra carta do jogo vinha como uma conclusão.


Nesse mesmo jogo, uma das casas — ou pergunta, se assim preferir — foi: como seria esse encontro, o que eu sentiria ou como eu ficaria? Eu estava muito inseguro, então não me bastava apenas saber como eu e ele nos comportaríamos, mas sim como eu iria me sentir ou ficar. E, para minha surpresa, no momento do jogo veio a carta do Mundo. E, especificamente, o tarot que usei para esse jogo foi o Tarot da Floresta Encantada (meu tarot preferido, por sinal), e nesse tarot a carta se chama The Wide World (O Mundo Vasto).

O Louco e O Mundo

O que amo nesse tarot é que as cartas são ambientadas numa floresta encantada e contam uma história. Nesse deck, a carta do Louco (primeira dos arcanos maiores) e a do Mundo (a última dos arcanos maiores) são conectadas. Na primeira, temos esse cervo branco (The White Heart), que nos convida a entrar na floresta e embarcar em uma nova aventura. Na carta do Mundo (The Wide World), ele nos encontra na saída da floresta, nos mostrando o caminho para fora dela — porém, um caminho para um novo mundo ainda desconhecido.


A carta do Mundo, nesse deck, nos fala sobre as experiências que aprendemos e como essa jornada iniciada nos mudou e nos levou ao “outro lado da floresta”. E agora, mais fortes, estamos prontos para um novo mundo. Porém, ainda dentro da explicação desse arcano, a autora traz no livro uma simbologia oculta. Olhando atentamente, vemos que o caminho que se segue fora da floresta leva a um monte com uma árvore, onde o aventureiro pode olhar para trás — uma última vista para a floresta encantada e para a jornada feita.


Ou seja, dentro do meu jogo feito para o dia “do encontro”, eu me sentiria “livre”. Eu encontraria meu ex e teria a sensação de ter chegado ao fim. Eu teria um sentimento de nostalgia, mas saberia que acabou, que cheguei ao outro lado da floresta encantada e agora um novo mundo me aguarda — que tudo o que passei agora seria uma lembrança, parte do meu passado e não mais do meu presente e futuro.


E não preciso dizer que o tarot acertou de novo (o que me deixou MUITO feliz). Eu não consigo descrever o que senti quando o vi. Eu senti, claro, um impacto — e uma leve tristeza. Eu não o via havia nove meses, e por muito tempo fiquei imaginando como seria reencontrá-lo. E sempre que imaginava, era uma cena de série americana muito triste. Basicamente começava comigo assustado e terminava comigo chorando.


Mas, na hora, eu senti apenas uma leve tristeza devido ao fato de estar de frente a alguém que era tudo. Meu mundo girava em torno daquele ser, eu amava aquele ser. Dividíamos a cama, segredos, carícias... e agora eu o via, mas não o reconhecia. E isso era muito triste. Eu via o rosto do homem que eu amava, mas ele não estava lá — ele não mais existia (e nunca existiu, na verdade, a não ser na minha mente). Eu olhei e, pra minha surpresa, eu automaticamente pensei: “Foi por causa disso que eu fiquei nove f*cking meses em casa?”


Eu estava com tanto medo do próprio medo que não percebi que muito já havia mudado dentro de mim. E eu não estou mentindo em dizer que foi um choque. Eu não esperava que minha reação fosse essa. Eu posso afirmar que pensei que iria me desesperar, chorar e querer ir embora fugido daquele ambiente, correr para minha casa, deitar na cama e chorar até cair no sono.


Neste momento em que escrevo, já fazem 13 dias — e parece que minha vida mudou depois daquele dia. Claro, depois desse encontro, eu ainda tenho momentos em que sinto falta ou algo parecido, porém está tudo muito diferente. O medo praticamente se foi. Eu voltei a sair e a normalizar minhas atividades — embora ainda não o tenha encontrado uma segunda vez, o que me deixa, sim, um pouco nervoso ao pensar nesse próximo encontro. O dia parece diferente, as cores estão mais vivas. Parece loucura, mas eu posso afirmar que, agora com esses “novos olhos”, eu sinto como se antes eu estivesse vendo tudo com um filtro cinza. E esse filtro foi embora. As cores estão saltadas, o dia está mais claro (mesmo sendo inverno e tendo dias nublados) — e eu estou feliz.


Eu estou feliz. Eu estou otimista. Eu realmente sinto, de verdade, uma mudança. Eu consigo agora me imaginar solteiro. Eu estou até gostando de estar solteiro. Eu estou com planos. Eu estou paquerando. Eu estou me divertindo. Agora, quando eu falo com meus amigos sobre meu ex, é em tom de brincadeira. Já virou piada interna. Eu não sou psicólogo, e também não vou a um, então não sei dizer o que mudou, não sei que mecanismo psíquico ocorreu — mas eu fico muito feliz que tenha acontecido. Eu não sei dizer se fiz certo em esperar esses nove meses ou não (que, aliás, afirmo que não reagirei mais assim em próximos términos), ou se foi bom ele ter sido um Rei no final das contas.


Só sei que eu estou muito feliz de ter saído de casa naquele dia, de ter ido mesmo sem coragem, de ter meus amigos ao meu lado e de ter visto ele. Foi a melhor coisa que me aconteceu esse ano — e devo dizer, em muito tempo. Eu senti como se alguém tivesse pegado uma chave e aberto as correntes que me aprisionavam. Um peso enorme saiu de cima de mim. Ou melhor, eu percebi que não havia peso algum. Que não havia monstro nenhum embaixo da cama.


Ao longo desses dias, eu tive outras epifanias e momentos de iluminação — mas deixarei para uma próxima postagem.


Nas imagens a Rainha de Ouros e o Rei de Ouros do Universal Waite Tarot Deck, e O Louco e O Mundo do Forest Of Enchantment Tarot.



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